sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

E por este ano é só, pessoal

Disse-lhe Jesus: sou a ressurreição e a vida; 
quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá;
e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá. 
Crês isto?
João 11:25,26

A Anunciação de Fra Angelico, c. 1438-47, Convento de São Marco, Florença.

A blogosfera anda cada vez mais moribunda. Quase cadavérica. Aparentemente, as pessoas desanimaram em ler e manter blogues. O público migrou para vlogues há tempos. De qualquer forma, isso não importa tanto aos blogueiros, pois a quase totalidade deles mantém o espaço apenas para compartilhar interesses, escrever amenidades ou realmente bostejar. Assim, ter acesso expressivo - e o mais desafiador: mantê-lo - torna-se irrelevante. Claro que quando compartilhamos algo queremos chegar ao maior número de pessoas. É, de certa forma, um dilema de blogueiro.

Confesso não gostar tanto de vlogs. Não necessito tanto ver a carafuça de ninguém enquanto comenta acerca de livros, filmes ou HQs. Há exceções, pois certamente alguns vídeos conseguem passar aquela sensação de intimidade e isso é bom. No entanto, quase sempre isso, em vídeo, sai meio superficial. Por mais que alguns vlogueiros tentem seguir um roteiro, editem o material e se esforcem para ser concisos, ficamos com a sensação de "faltou algo" ou "falou demais para monetizar", sem contar os jabás das editoras sacanas. 

Acho legal vídeos para ver o produto com mais minúcias. Mas, em regra, só. Tentei uma breve experiência com vlog sem rosto, apenas para indicar coisas que gosto com direcionamento a este blogue. Mas não aguentei alimentar o canal por nem um mês. Cancelei. Não deveria tê-lo fechado, talvez, porque havia uns vídeos incorporados ao site. Mas o que é meia dúzia de vídeos entre mais de mil postagens? Preferi, mesmo, cortar laços com o aquele canal. Fracassei só de tentar lidar com o meio vlogueiro. Não parece ser para mim! Depois, criei um novo canal onde tentei, aos poucos, postar acerca de assuntos que considero bacana compartilhar. Fechei novamente. Hoje, mantenho um canal apenas para complementar o blogue em alguns assuntos, e quase não o utilizo. Mas, creio, o equilíbrio certo entre vlog e blog é algo que poderia ser melhor aproveitado.

A natividade com os profetas Isaías e Ezequiel de Duccio di Buoninsegna, c. 1120-40, National Gallery of Art, Washington, D.C.

Os rumos deste blogue não me importam tanto. Sua versão anterior surgiu ainda no auge do Orkut e suas postagens eram divulgadas especialmente na comunidade do Universo HQ, arbitrariamente moderada. Rolavam boas conversas por lá, contudo; assim como célebres barracos envolvendo até editores de revistas e suas nobilíssimas esposas. Saudades do Orkut. Isso foi em junho de 2011. Oito anos passaram-se voando. Para mais acerca da história do Blog do Neófito, recomendo a postagem Overture.

Não levo internet a sério. Costumo dizer que meus colegas de verdade têm meu contato telefônico ou sabem meu endereço quando quiserem me procurar. No entanto, como negar ter conhecido boas pessoas em razão da blogosfera? Praticamente todas as pessoas que conheci por este meio são legais. 

Acho improvável que blogues voltem a "bombar". Parece que o desinteresse pela leitura migrou até mesmo para estes espaços. Mídias informativas escritas vão cada vez mais definhar, ainda mais com a ascensão da banda larga proporcionando a postagem de vídeos em Ultra HD, 4k etc. Parabéns a nós, blogueiros, por insistir neste meio. Somos persistentes. Enquanto pessoas caírem de paraquedas em nossos sites, através de pesquisas no Google, ainda valerá a pena. Quando, algum dia, o acesso for inexistente, então - talvez - chegue a hora de abandonar o barco.]

                      Intermission...


O vídeo acima condensa a famosa canção da propaganda do Banco Nacional que invadia nossas TVs durante aquela infância onde o mundo parecia ser melhor. Ficou fofa, hein? Seria mais fofa se a instituição não houvesse passado a perna em seus clientes e credores e, ainda por cima, se dado bem com ajuda de nosso Governo Federal. Mas não pensemos nisso agora.

Sempre desejei feliz Natal, em blogues, de maneira mais jocosa, com a imagem de uma bela "mamãe Noel". Agora, não. Por isso desde o início desta postagem optei por representações bíblicas. A data é comemorada, há séculos, em homenagem ao nascimento de Cristo. Mesmo em sua fase pré-cristã, possui conotação divina, de graças à natureza. Desde que me entendo por gente, contudo, aparenta mera festividade no calendário, onde beberemos e comeremos usando roupas bonitas. Você pode não ser cristão; contudo, utilize esta data para reflexão sobre os ensinamento atribuídos a alguém que - mesmo enquanto homem - trouxe luz a um mundo que, hoje, estaria dominado pelas trevas; que inspirou o surgimento da Igreja (autora de coisas boas, como o zelo pelo conhecimento, elaboração de um sistema público de ensino e anfitriã das mais belas criações do homem).


Em 25 de dezembro de 1642 nasceu Isaac Newton. No Natal de 1990, Tim Berners-Lee e  Robert Cailliau implementaram a primeira comunicação bem-sucedida entre um cliente HTTP e o servidor através da internet. No Natal seguinte, caía oficialmente a sangrenta União Soviética. E, para mim, o fato mais espiritualmente relevante à humanidade: foi no Natal de 1914 que combatentes alemães e britânicos celebraram o simbólico armistício numa guerra. Além de tudo: minha filha nasceu num dia 25.

É no cristianismo que se prega o amor, a tolerância e, sobretudo, a resignação. É no Natal onde festejamos o nascimento de quem deu a própria vida por todos nós. Cristo, mesmo enquanto ideia, é a entidade mais poderosa na existência humana; talvez, a responsável pela nossa longevidade.

Não sei bem o porquê, mas resolvi encerrar esta postagem com a cena abaixo, já compartilhada aqui quando falei da filmografia de Stanley Kubrick. Trata-se do último momento de Glória Feita de Sangue (Paths of Glory). A história começa como típico filme de guerra, passa à narrativa de tribunal e conclui com o insensato fuzilamento de soldados franceses condenados - de maneira notoriamente injusta - por um plenário de seus compatriotas. Após o fuzilamento, vários militares vão se divertir numa área recreativa, onde a grande atração é a garota alemã (Christiane Kubrick/Susanne Christian) levada ao local contra sua vontade. Os homens, há tanto tempo sem mal ver uma mulher, exaltam-se e ofendem-na, ainda mais por pertencer à nação rival. Para entretê-los, ela começa a cantar, e nos dá uma das cenas finais mais bonitas do cinema: nenhum daqueles homens queria estar ali. "O amor tudo vence" é a lição.



Enfim, ad hunc modumper summa capita, sem mais delongas, um bom Natal para todos vocês, colegas meio humanos, meio eletrônicos.

Abraços festivos e até a próxima.

Republicação, adaptada, de postagem de 21 de dezembro de 2015 do blogue anterior 

7 comentários:

  1. gosto da ideia de reformar textos antigos do blog

    "o equilíbrio certo entre vlog e blog é algo que poderia ser melhor aproveitado" - ainda acho muito trabalhoso a questão do vídeo: gasta-se tempo filmando, editando. texto é muito mais prático e facil de editar. tentei fazer vídeo, mas desisti tb


    talvez o meio termo seja o podcast, um bate papo ou monologo

    linda mensagem esse post de natal

    feliz natal para você e família

    abs!

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    1. "tentei fazer vídeo, mas desisti tb"

      É para poucos. Ou para quem tem nisso uma profissão.

      Scant, feliz Natal igualmente para vc e sua família.

      Abraços!!!

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  2. Fabiano, concordo contigo em boa parte. Mas sinto, realmente, que ela está meio moribunda. Os baixos acessos mostram isso. Vale a pena continuar? Claro, caso contrário não estaríamos aqui.

    No meu caso, escrever aqui é terapêutico. E enquanto estiver servindo a este propósito, está valendo.

    Tb sempre aprendi muito com Youtube, até mesmo sobre reparos em casa, igualmente a vc. Além disso, há diversos canais de "trivialidades" que gosto bastante.

    Abraços!!!

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  3. Fantástica a produção deste comercial do Banco Nacional. Assistindo com atenção dá para identificar vários detalhes que transbordam anos 80. Apesar de sentir falta dos tempos mais inocentes da primeira década da internet (para mim, 1998-2008) tenho mesmo saudade de quando a vida não tinha E-mail e Smartphone com WhatsApp despejando problemas em nossa cuca a cada 30 segundos. No último mês, consegui me livrar das últimas redes sociais que ainda mantinha e me senti verdadeiramente alforriado da carência permanente das pessoas. Devia ter feito isso há mais tempo.
    Mas o que queria mesmo dizer, antes desta flagrante demonstração de mau humor, é que este espaço já me mostrou muita coisa bacana e fico feliz que continue. Um magnífico 2020 para você e sua família. Magnífico!!! Grande abraço!

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    1. Não sei se essas épocas mencionadas por você foram realmente boas ou é apenas aquela sensação de bem estar com o passado que possuímos, como no célebre "fui-o outrora agora" de Pessoa. Mas sei que também recordo com alegria os anos da virada entre as décadas de '80 a '90, quando consumíamos todo o refugo cultural americano. Também recordo bem a chegada da internet em minha vida - IRC, ICQ, o maravilhoso mundo novo dos navegadores com a informação tão fácil...

      Certamente, todo avanço tecnológico é, a priori, bom. Como negar as qualidade de nossa evolução em IT? A própria evolução que nos permite acessar o Youtube e aproveitar tão facilmente essas recordações. Contudo, sinto o mesmo que vc: o peso do excesso de comunicação. Por vezes, desligo meu telefone por até dois dias seguidos. Quanto à rede social, mantenho Facebook para exercer meu lado troll em alguns grupos e páginas e, no Instagram, porque aprendi a usá-lo como ferramente de trabalho. Penso que o caminho é esse seu: fazer nossa parte diante da tecnologia, consumi-la sem sermos consumidos.

      Fico grato que goste deste espaço e torça pela sua continuidade.

      Desejo a você, igualmente, um magnificentíssimo 2020, bem como à sua família, especialmente seu filho.

      Abraços, Pateta!!!

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  4. Já pensei várias vezes em fazer um canal porém eu não me dou muito bem com câmeras, me sinto melhor atrás das telas ou de um livro. Sem contar que não tenho também muita paciência para ficar assistindo vídeos e acompanhando canais, faço isso com uns 2 ou 3 no máximo. Já tive um blog de resenhas antes desse meu atual e fiz boas amizades, assim como fiz nesse. Porém o que tive foi lá por meados de 2011 também e se comparar com as visualizações que recebo hoje no meu, é bem decepcionante. Enfim, gosto mto da blogosfera e espero que ela não morra.
    Um ótimo 2020 para ti e para toda a sua família. Espero de coração que esse ano traga mais coisas boas do que ruins e que a gente continue trocando ideias literárias.

    Grande abraço,
    Larissa | Parágrafo Cult


    Ah, eu tentei comentar aqui no seu blog há alguns dias mas por algum motivo o meu pc não queria abrir o link, pelo menos agora foi rs.

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    1. Olá, Larissa. Ótimo tê-la aqui.
      Pois é. E pensar q eu mantinha até 2000 acessos por dia. Não é essencial, mas é bom saber do alcance das postagens.
      Grato por suas felicitações. Deveras, um ano vindouro melhor seria bem vindo,
      Desejo o mesmo a você e a toda a sua família.
      Grande abraço, garota!

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