sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O Beijo no Asfalto em Quadrinhos

O dinheiro compra até amor verdadeiro.
- Nelson Rodrigues

Tive contato com a obra de Nelson Rodrigues aos meus catorze anos de idade, quando pequenas adaptações eram exibidas no Fantástico (o show da vida!). Era o que tinha para ver: a televisão e o que ela queria nos dar e como queria nos dar. Não sinto saudades daquela época, embora sempre me recorde com carinho. Depois, houve reapresentações do seriado em outros anos e noutras grades. Em pesquisa na Wikipédia, descobri que "O nome da série é uma referência direta à coluna de Nelson no jornal Última Hora, onde o autor escreveu grande parte de suas histórias." E, cara, como era legal ver putaria na TV, naquela época. Também eram o que tínhamos: TV, poucos VHSs e revistas para dar vazão à tara adolescente que saía pelo ladrão.

Com catorze anos de idade eu já era leitor contumaz não apenas de quadrinhos, mas também de literatura variada. E logo fui à cata de conhecer mais sobre o dramaturgo e suas realizações, bem como de sua vida fodida e repleta de azares e tragédias. E, mais à frente, o vi sumir do mapa junto a autores como Monteiro Lobato e outros "cancelados" pela hegemonia progressista que realmente manda na porra toda. Embora sempre mostrando que, por trás da tradicional família brasileira, havia desvãos sinistros, Nelson Rodrigues foi árduo opositor ao progressismo e voz poderosa em prol do conservadorismo político. E, por isso, sua obra hoje está no ostracismo; ou melhor: sepultada sob pás de cal.

À toa numa banca de revistas, acho que no ano de 2012, vi a adaptação para quadrinhos de Beijo no Asfalto, por Arnaldo Branco (roteiro) e Gabriel Góes (desenhos). Custava uma mixaria e era o que valia, diante do formato diminuto (pocket da Ediouro, 12 x 18 cm) e acabamento vagabundo. Comprei e achei bem legal a adaptação, em traços duros e sombrios, sem arroubos e floreios. Descobri que a primeira versão do gibi saiu em formato americano, em 2007, com selo Nova Fronteira (empresa do grupo Ediouro). Certamente, a versão diminuta tolheu bastante da fruição estética.

A trama de O Beijo... é muito simples. Um homem casado, no horário de pico em meio à Praça da Bandeira, se ajoelha e beija a boca de outro homem prestes a morrer após atropelamento. A imprensa marrom logo se apropria da história para, junto à polícia corrupta, dissecar a vida do cidadão, arruinar sua existência familiar e profissional e, levando tudo às últimas consequências, lhe dar o famoso desfecho trágico e aparentemente insólito, típico da narrativa deste grande autor.

Esses dias, vasculhando meus gibis, reencontrei este quadrinho e o reli. E não sei porque razão achei interessante compartilhar aqui. Para quem quiser ler sem meter a mão no bolso, recomendo o blogue Caverna Nerd.

Abraços rodriguianos e até a próxima.




12 comentários:

  1. Gosto desse estilo de desenho. O texto, é fiel ao que Nelson escreveu, ou, ao menos, ao filme?

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    1. Olá, Marreta. Como está?
      Fico feliz por vê-lo aqui, pois conheci seu espaço por meio do Ozy e gostei do que vi lá. Pensei em te propor uma parceria simples com a inclusão mútua na lista de blogues.
      A HQ é fiel à obra original. Bastante resumida, claro. Mas ficou fiel naquilo que resumiu.
      Também gosto deste estilo. Sempre gostei desse jogo preto e branco, algo que me pegou desde criança, com a leitura de quadrinhos de terror brasileiros. Aliás, para mim, o Flávio Colin foi o maior ilustrador dos quadrinhos (do mundo!).
      Abraços!

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    2. Considere o seu blog incluído lá no Marreta desde já.
      Abraços.

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    3. Olha quem apareceu por aqui, o Marreta! Vai sair coisa boa dessa parceria.
      Lembrei do estilo do Colin assim que bati o olho na arte, é mesmo muito marcante. Parece que o PN vai lançar um volume coletânea com obras dele nos moldes do que fizeram em "Fronteiras do Além" com material do Jayme Cortez. Abraços!

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    4. Olá, Pateta.

      Conexão na blogosfera é sempre positivo. Ando meio fechado desde o fim do blogue anterior. Mas, lentamente, vamos nos conectando.

      Não há como, mesmo, não recordar de Colin. Há vários anos, imprimi quase todas as histórias dele em ótima resolução e encadernei. Uma encadernação simples, em percalux, similar aquelas de monografia. Até hoje está aqui, firme e forte. Pena que, na época, não ligava tanto para ler no formato eletrônico e, hoje, gostaria de todos aqueles arquivos para reler em tablet.

      Passei a do Jaime porque já li tudo dele. E pq também não ando mais comprando tanto, como falei antes por aqui. Mas a iniciativa é nobre.

      Abraços!

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  2. Olá, Fabiano.
    E por que não? Você já possui contos bem recepcionados pelos leitores do segmento. Basta imiscuir-se mais, agora, nos aspectos psicológicos das personagens. Contudo, me pergunto se isso não seria mal recepcionado por seus leitores. Precisaria testar...
    Abraços!

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  3. Vc anda reparando muito nos canecos alheios...

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  4. https://mega.nz/#!iYJkySjI!NvIPsFRZietbvGT5vGKC3e9WEt6QGNXXiJokxjUqNfc

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    1. Valeu! Servirá para quem pretende ler mas não tem onde comprar.

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  5. mais alguns anos e os autores hoje cancelados voltarão com força total ditando um novo politicamente correto

    se tivesse tempo faria uma pesquisa sobre as esquecidas graphic novels tupiniquins, deve ter muita coisa ruim enterrada e uma ou duas pérolas

    abs!

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    1. Olá, meu velho.

      Compreendo bem o que você falou porque já pensei como você. Acreditei, durante anos, que quase tudo são lados da mesma moeda e que quase tudo é relativo, dependendo apenas do ângulo do ponto de vista.

      Hoje, acredito piamente que há extremos que nunca se tocam e que são apenas isso: extremos. E sem relativismo: um lado é bom; o outro, não.

      No caso em apreço, os atuais cancelados não “ditarão” nada. Porque eles não ditam. As pessoas que impõem pautas, com coação e cancelamentos, são as politicamente corretas. Os “incorretos” não coagem ninguém a seguir suas cartilhas. No máximo, os incorretos poderiam produzir em paz, sem patrulhamento. Mas nunca, nunca mesmo, lutariam por imposição. O que é livre não precisa de imposição. Apenas o que restringe pede patrulhamento e cancelamentos.

      Nunca houve, na História, algum criador personae non grata que tentou ditar regras. E, hoje, continua não havendo.

      Sobre as HQs, encontramos mesmo bastante lixo. Mas me divirto com isso. Ler quadrinho nacional vagabundo, para mim, é como assistir a Cine Trash da Band: só alegria.

      Abraços!

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    2. demoliu meu comentário
      se vou pesquisar umas hqs trash nacionais

      abs!

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