segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Eu sou o marinheiro Popeye


Imagem de meu acervo pessoal.

Vagando só, no mar ardido,
até pensei: estou perdido!
Senti coceiras na pança
e esvair-se a esperança.

Mas os deuses - é o segredo
- só testavam o meu medo.
Quando a fé já era parca
enviaram-se uma barca.

E, quem sabe, nessa nau
eu até não me dê mal:
minha fama não conheçam
e comida me ofereçam

Dudu J. Pimpão, em Na Terra dos Jeeps

Como a maioria dos semi-velhotes de hoje, tive contato com Popeye por meio dos desenhos animados - os quais tiveram vários estúdios no decorrer das décadas - e do filme duvidoso de Robert Altman, estrelado por Robin Williams e Shelley Duvall (atriz que adoro). Só bem tardiamente tomei conhecimento das tiras e dos quadrinhos mais longos. Aí descobri o trabalho do criador E. C. Segar (cigar?) e das pessoas gabaritadas que deram continuidade à sua obra, como o saudoso Bud Sagendorf. Pesquisando mais sobre o assunto, descobri que os primeiros quadrinhos do personagem "foram publicados pela primeira vez em 1932 no jornal Diário de Notícias. Nessa época Popeye e Olívia tiveram os seus nomes traduzidos nas primeiras publicações, Popeye se chamava "Brocoió", Olívia "Serafina". Porém os nomes não fizeram sucesso, e acabaram mudando para os que são conhecidos até hoje em dia" (v. Wikipédia). Os últimos gibis surgidos por aqui foram Super Popeye (2014) e Popeye Clássico (2016), pela Pixel (pertencente ao grupo Ediouro, responsável por uma longa época de quadrinhos variados no Brasil, antes da expansão da Panini). E foi justamente esse Super Popeye que reli esses dias, embora tenha alguns formatinhos também da Pixel com tiras clássicas encartadas.

Super Popeye reúne cinco números do gibi escrito por Roger Langridge e ilustrados por diversos artistas. Não entendi porque a Pixel não publicou logo tudo em um baita encadernado, pois a série totaliza doze número. E o pior: quando lançaram o segundo volume, mudaram o nome para Popeye Clássico e não deram continuidade a nada de Langridge. Coisa do mercado editorial brasileiro, sempre caótico e cagando para nós, leitores. É uma pena, pois as HQs são maravilhosas e sempre pedem uma releitura em momentos de ócio.

Aparentemente, Roger Langridge tentou manter-se fiel à ideia primeva de Segar. O mundo de Popeye é rico e às vezes esdrúxulo. Nas animação, tudo é muito fofo e linear: Brutus (Bluto, originalmente) é o vilão temido pela delicada Olívia. O velho marujo sempre vem ao seu socorro e todos acabam bem, exceto o vilão. Mas, nos quadrinhos, a magricela é uma baita safadinha que não pode ver homens fortes sem ficar ávida para dar, despertando ciúmes no caolho. Ah, e ela trata mal à beça o velho lobo do mar, chamando-o de panaca, entre outros epítetos. Está sempre de mau humor e rangendo os dentes, numa eterna TPM. No meio de tudo isso, temos o Dudu que, além de comilão, é um tremendo escroto, Interesseiro com "I" maiúsculo e amigo da onça, caloteiro, punguista e ardiloso. E a fauna esquisita está presente e sem demais explicações, como o "jeep" Eugene e a "goon" Alice, baba do bebê Gugu (filho adotivo de Popeye, que mora numa casa-barco com o velho papai-Popeye).

O mais bacana dessa leitura é constatar que, felizmente, não houve espaço para o insosso politicamente correto nesses quadrinhos. E olha que Langridge é bem moderninho e "engajado" com pautas desmioladas. Se algum dia topar com essa publicação em sebos, compre. Valerá a pena.

Abraços a bombordo e até a próxima.

A jogatina rola solta.

Os benefícios do tabaco em terras (e mares) tropicais.

Sem espaço para vegan power.

Porque bicho foi feito pacumê.

Mulheres histéricas.

Sacrossanto direito de infernizar o marido.

Palito dá pra todo mundo.

6 comentários:

  1. Consultando meu tarô agora, diria que as editoras e estúdios vão tomar no cu. Merecidamente.

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  2. ainda dá pra achar bastante coisa dele em scan
    engraçado como o personagem foi suavizado nas animações.
    isso explica pq o Brutus perde tanto tempo com a magrela

    abs!

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    1. Olá, Scant.

      "engraçado como o personagem foi suavizado nas animações"

      E, mesmo assim, foram ótimos desenhos. Imagino hoje como seria. Esses dias estive vendo os novos desenhos das Meninas Super Poderosas com minha filha. Cara, que horror! A coisa está de mal a pior.

      Abraços!

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  3. "já está havendo uma certa reestruturação"

    Sim. E fico feliz por isso. Mais pessoas se auto publicando e até mesmo com suporte de gigantes como a Amazon. Como autor, vc sabe bem disso. Se fosse fosse depender de uma editora, mesmo que de uma plataforma digital de alguma editora, estaria até hoje no anonimato. Editoras são isso: panelinhas.

    Torço para que isso cresça, para que mais pessoas comprem leitores como Kindle, Lev ou Kobo e larguem mão da mídia impressa.

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  4. Roger Langridge - quase nada saiu no BR dele
    http://www.guiadosquadrinhos.com/artista/trabalhos-de/roger-langridge/3546

    vc nao falou se o popeye clássico vale a pena na postagem.

    abs!

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