sábado, 20 de julho de 2019

O pior gibi do mundo


Não me livrei da HQ nacional Deus, Essa Gostosa porque preciso guardá-la para a posteridade. Acaso tenha netos e possa conhecê-los, para lhes mostrar: "Olhaí porque o mercado editorial naufragou e porque a produção nacional de quadrinhos não é levada a sério". Comprei esta porcaria de Rafael Campos Rocha após o ano de lançamento, em 2013. Tinha o selo da Quadrinhos na Cia e pensei "Por que não colocar no carrinho de compras?". Que grana jogado na latrina. Que quadrinho porco. Papel bom desperdiçado em algo assim. Totalmente antiecológico. Depois que editoras e livrarias entram em crise, todos fingem não saber o porquê. Claro que há diversos fatores. Contudo, publicações assim nos fazem quase que torcer pelo fechamentos de algumas pocilgas.

Recentemente, teci alguns comentários sobre sebos e, antes, sobre o mercado livreiro brasileiro quando falei de A Saga do Tio Patinhas. E, hoje, remexendo na estante, reencontro este exemplar do que, creio, seria o pior gibi já lido em meus quase quarenta anos de idade. Essencialmente, a obra nos mostra o Deus dos hebreus como uma empoderada mulher negra pansexual e dona de sex shop. Cenas de sexo explícito rolam soltas, o autor ainda tenta fazer filosofia de boteco num diálogo mequetrefe entre Deus e Satã enquanto tomam umas biritas e há espaço até mesmo para que Ele(a) receba em sua casa grandes pensadores do comunismo para tomar uma breja enquanto assistem ao futebol. Colegas, quanto lixo sem sentido! E é curioso que essa patota da resistência Nutella, até hoje, desconheça que a elite marxista é extremamente conservadora no espectro moral e de costume, culpando o regime burguês por aquilo que consideram parafilias: pornografia, homossexualismo entre outras práticas. Acordem, garotos! Pesquisem mais antes de erguer bandeirolas, seja em manifestação de rua ou dentro de editoras.

Vejam bem: tanto o tinhoso quanto Deus foram abordados por diversos quadrinistas em vários momentos. Agora mesmo recordo de Neil Gaiman em Sandman e Mistérios Divinos. Ou Garth Ennis em sua época à frente de Hellblazer ou na obra autoral Preacher. São tantos exemplos. E, agradando ou não a viés religioso, são histórias bacanas, inteligentes e envolventes. Os caras têm requinte, enfim. E, putaria por putaria, por que não citarmos a "trindade" italiana Guido Crepax, Milo Manara e Paolo Serpieri? Vejamos então Lost Girls de Alan Moore, autodenominado xamã e avesso ao cristianismo, mas que jamais endossaria projeto tão imundo quando o "fanzine" de Rafael Campos. Em resumo: o problema não é o fundo religioso, "engajado e progressista" ou a "revolucionária" putaria. Sacanagem nos quadrinhos temos desde antes Carlos Zéfiro. Certamente, quem ousou criticar este troço quando de seu lançamento foi rotulado de fascista, conservador, acéfalo, extremista religioso (ainda que ateu!) pela turminha paz e amor - sempre autoritária, avessa a críticas e ansiosa por cercar os que pensam diferente na espiral de silêncio com a linguagem politicamente correta.

Essencialmente, a HQ foi elaborada para lacrar, para sambar na cara da sociedade misógina, racista, homofóbica e patriarcal. E o selo Quadrinhos na Cia endossou as quase cem páginas de puro excremento para, no final das contas, não lacrar porcaria alguma. Quem lê quadrinhos sabe muito bem que os temas ali abordados não são novos. Foram apenas desgraçadamente mal executados pelo Rafael Rocha. Por coisas assim não sinto pena da bancarrota do mercado editorial nacional. Como falei antes, que se danem. Nichos morrem, outros florescem. Hoje em dia, aliás, temos tecnologia barata e adequada para lermos sem precisar de meio impresso. Faça um favor ao mundo: ajude o mercado editorial atual a falir de vez. Como diz o revolucionário de boutique mais enragée: toda revolução é bem vinda e, dos destroços, algo bom surgirá.

Certamente, Deus, Essa Gostosa não é o único exemplo. Contudo, parece o melhor representante do escatológico nacional. E cito escatológico com receio de ofender o trabalho de alto nível de autores como Marcatti, e.g., em suas tramas de traço único, onde resíduos fecais, fluidos corporais e toda a sorte de parafilia sempre resultam em HQs divertidas e soberbamente executadas.

Durante muitos anos acompanhei de perto a produção nacional, efetivamente comprando HQs independentes ou - não se enquadrando neste nicho - mas de autores nacionais, editados por grandes editoras ou pequenos selos. Aproveitava boa parte do que era adquirido e recomendava no blogue anterior. E sempre me surpreendia com a péssima qualidade de alguns materiais. Hoje, nem me assombro mais com a incompetência daqueles caras. Eram trabalhos não merecedores, sequer, de papel jornal, quando mais de impressão em offset. Procuro ficar de olho em alguns canais como o Papo ZineQuadrinhos para Barbados. São bons canais, profissionais e realmente procuram dar destaque a grande número de artistas. E ali percebo, também, porque nosso mercado vai de mal a pior. O discurso dos carinhas mais novos é sempre o mesmo: subversão, empoderar, precisamos discutir isso e aquilo. Em que mundo esses caras vivem? Em que planeta habitam algumas das autoras ali entrevistadas? Só falam mantras feministas, lugares-comuns e frases-feitas. Não conseguem ir além disso e editam muito lixo cujo único afã é postá-lo em rede social para lacrar em sua bolha social. Vêm com esse papo de subversão quando, há décadas, bons autores já estava fazendo isso, só que com esmero, elaborando boas histórias. Com o tempo, cansamos até mesmo de tentar dar chance a material nacional. É quase sempre a garantia de que perderemos tempo.

Abraços e até a próxima, brothers in arms.


E disse Deus: "Haja luz"; e houve luz. - Gênesis 1:3

(Imagem de Free-Photos por Pixabay)

3 comentários:

  1. Isso só reforça minha tendência em evitar gibi nacional
    Obrigado por ajudar os leitores sérios a evitar essa bagaceira

    Abs!

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  2. Como diziam naquele ditado sobre estar na chuva e se molhar... O que fazer? No momento em que o sujeito dá à luz algo assim, deve estar preparados para arrancar aplausos da turma da lacração e a receber críticas de quem cresceu lendo quadrinhos. Faz parte. Quando nos propomos a realizar algo (pintura, música, gastronomia etc., ou até mesmo serviços mais comuns) devemos estar preparados ao fato que MUITA gente não gostará e vai sim comentar.

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