domingo, 5 de maio de 2019

Mestres da Ilustração e Saga de Terror [ por Jayme Cortez ]


Quando moleque, eu curtia ler as edições Calafrio e Mestres do Terror que meu irmão possuía. Hoje, penso como isso era curioso: numa noite, Turma da MônicaRecruta Zero e Turma do Arrepio, bem como alguns almanaques Disney que às vezes surgiam (mais em razão de trocas do que por compras em bancas); noutra, títulos recheados de horror e terror, violências em todas as suas formas e - claro - bastante erotismo. A produção de terror nacional, em minha infância, teve papel relevante. As editoras Devir e Mythos estão colocando no mercado encadernados com histórias da produção americana. Entretanto, o conteúdo nacional está mofando. Para quem gosta de scans, todavia, há muita oferta de obras digitalizadas. Eu vivia à míngua diante disso, pois não conseguia ler muito no meio digital. Felizmente, me adaptei bem ao formato eletrônico.

Enfim. Ontem li Saga de Terror, do mestre Jayme Cortez - português que viveu a maior parte de sua vida em nosso País e batalhou por um melhor reconhecimento da nona arte, durante bastante tempo marginalizada. O álbum foi publicado pela Martins Fontes em 1988, pouco tempo após o falecimento do autor, que já havia selecionado todas as histórias para a edição e acertado tudo com a editora. São 58 páginas com 18 histórias (nove delas, com apenas uma página cada) de puro terror tupiniquim. O mais bacana dessas edições brazucas é que os autores emulavam o jeito americano de escrever, especialmente quanto aos nomes dos personagens. Já falei sobre isso no blogue anterior, em postagem infelizmente perdida para sempre.

Na Saga, descobri que Jayme Cortez costumava quadrinizar canções. Com seu traço quase exagerado, onde a página é totalmente preenchida, li adaptações de Bark at The Moon (Ozzy Osbourne), Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Coração Materno (Vicente Celestino, regravada por Caetano Veloso em Tropicália). Segundo o próprio quadrinista, essas músicas seriam clássicos do terror. Concordo com ele. Asa Branca por exemplo, em seu âmago, é macabra. Quem conhece o sertão, sabe do que falo.

É uma pena, mesmo, que não haja editora interessada em selecionar materiais como esse e publicá-los em forma de antologias. A Ópera Graphica até tentou dar atenção à produção nacional sci-fi, erótica e de terror. Mas, até onde recordo, foi só ela. A Nemo editou, recentemente, Fantasmagoriana & Outros Contos Sombrios, com narrativas desenhadas por Flávio Colin e escritas por Wellington Srbek. Mas foi algo bem tímido e - creio - apenas ocorreu porque o escritor é Editor na empresa e, claro, é do seu interesse ver suas obras no mercado. Quanto à Flávio Colin, tenho dois "encadernados caseiros" que elaborei com base em scans. Como tudo é P&B, ficaram ótimos numa impressão a laser em alta resolução. Depois, foi só encadernar e me deliciar. É a velha história: se Maomé não vai até a montanha....

Abaixo, algumas imagens desse gibi fantástico (com cheiro de nostalgia em suas páginas amareladas) e de outras obras similares que selecionei rapidamente de minha coleção, além das edições que "inventei" do Flávio Colin. Destaco que, em Saga de Terror, a introdução foi escrita por Álvaro do Moya. [Update: postarei as fotografias depois]

Como falei de Jayme Cortez mostrando um pouco de seu gibi póstumo Saga de Terror, agora compartilho um de seus trabalho "técnicos": Mestres da Ilustração. Além de profícuo artista dedicado às histórias em quadrinhos, esse grande portuga se enveredou por tudo quanto é nicho criativo: já participou de três filmes do diretor José Mojica Marins (o Zé do Caixão): Delírios de um anormal (1978); Mercado do Sexo (1979) e Perversão: Estupro (1979); trabalhou na área publicitária como diretor de criação da McCann Erickson - lembrando que Ziraldo também já bateu ponto lá; e escreveu três livros: A técnica do DesenhoMestres da Ilustração e Manual Prático do Ilustrador.

Em Mestres da Ilustração, o autor nos introduz rapidamente por aspectos gerais da ilustração pura, passando por seu uso em capas de livros e cartazes para, após, expor e comentar brevemente a arte dos trinta e cinco artistas convidados. Seu objetivo era que este volume fosse o primeiro de uma série onde vários outros criadores tivessem espaço, gente nova, com novas técnicas e novos caminhos no campo da ilustração. Entretanto, a ideia ficou apenas... na ideia. Ainda segundo Jayme Cortez, a missão do livro foi "mostrar os temperamentos artísticos dos autores, as técnicas usadas, com maior número de informações, desde a criação e o desenvolvimento até a finalização de seus trabalhos". Essa missão acabou realizando-se de maneira superficial, reconheço. Mas a obra vale a pena como portfólio genérico de diversos artistas que marcaram época; alguns, ainda vivos e atuantes, como Ziraldo. Destaco o uso das ilustrações, sobretudo, para fins publicitários.

A lista de artistas presentes nesta "antologia de ilustradores brasileiros"é: Adão Gonçalves, Alceu Pena, Aldemir Martins, André Le Blanc, Armando Moura, Aylton Thomaz, Benício, Calixto, Chien, Edmar Salles, Fernando Dias da Silva, Flávio Colin, Getúlio Delphim, Grassetti, Inácio Justo, Ivan Wasth Rodrigues, José Lanzellotti, Licínio de Almeida, Manuel Victor Filho, Maurício de Souza, Mello Menezes, Messias de Mello, Newton Resende, Nico Rosso, Pedro Lara, Percy Deane, Silvio Ramires, Roberrto Barbosa, Vilmar, Wagner, Walter Hime, Walter Levy, Zaé Junior e Ziraldo. Dentre eles, apenas uma mulher: a belíssima e talentosa Yvete Ko Motomura.

Mestres da Ilustração de Jayme Cortez: a técnica da ilustração, capas e cartazes. Capa de Hector Tortolano. Editora Hemus. Ano da Edição: 1970. 245 páginas no formato 22,0 x 28,0. Capa dura. Preço: variável de acordo com o sebo/vendedor.

Post scriptum ou update. Recordo que esta postagem é republicação do antigo blogue mantido por mim, daí a ausência de links e as referências a alguns lançamentos como algo atual.




4 comentários:

  1. "Quanto à Flávio Colin, tenho dois "encadernados caseiros" (...) e me deliciar." -para o leitor brasileiro essa, muitas vezes é a única solução
    ótima idea

    abs!

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    1. Fiz numa época em que não gostava muito de ler em tablet. Hoje, apenas leria os scans. Abraços!

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  2. Puxa, fiquei curioso para ver suas edições caseiras. Abraço!

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    1. Havia postagens a respeito no blogue anterior. Vou tentar fazer algum novamente, numa única postagem em vídeo, onde possa mostrar os detalhes. Abraços!

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