quarta-feira, 1 de março de 2017

Os temas abordados em Frequência Global [ HQ, review ]


Imagem de meus exemplares.

A Panini lançou, em dezembro de 2009 e maio de 2012, dois encadernados reunindo doze capítulos dessa excelente série escrita por Warren Ellis para o selo WildStorm, ilustrada por diversos artistas (um para cada capítulo, dos quais destaco Glenn Fabry, Steve Dillon, David Lloyd, Simon Bisley, Chris Sprouse e Lee Bermejo). 

Frequência Global (FG) designa uma organização supranacional de salvamento, estruturada em telefonia por satélite e controle centralizado. Partimos, então, da ideia de smart mobs - mobilizações organizadas de forma rápida e inteligente por pessoas desconhecidas entre si, mediante contato telemático. Assim é que, por exemplo, uma manifestação com milhares de pessoas é organizada, em instantes, por redes sociais na internet, ou sites e blogues. Encabeçando esta organização de financiamento plúrimo e agentes obscuros está Miranda Zero; no centro de controle, a jovem descolada Aleph, monitorando tudo em dezenas de imagens por segundo e linha de comunicação permanente com os 1001 agentes da FG. Aliás, o próprio codinome "Aleph" remete ao conto homônimo do argentino Jorge Luís Borges, sobre ponto de onde poderíamos visualizar todos os espaços físicos, ao mesmo tempo, do Universo.

A HQ foi escrita como série de TV, com episódios fechados, podendo ser lidos fora de ordem. Aliás, os únicos personagens fixos em todas as tramas são Aleph e Miranda Zero. Entretanto, sempre há protagonista diferente em cada história, sendo essas personagens fixas meras coadjuvantes. Muitas vezes, tais protagonistas morrem em missão.

O trabalho nos chama atenção desde a "cara", pelo trabalho diferente do capista Brian Wood (capas originais e dos encadernados). Semelhante ao que Dave McKean fez em Sandman de Neil Gaiman, o artista utilizou diversas técnicas para elaborar suas composições, como recortes e fotografias. A escolha de ilustrador diferente para cada capítulo oxigenou a obra, mesmo com altos e baixos. Quase todas as histórias começa e terminam de forma abrupta, com discrição na exibição do título e sem créditos. Estes são indicados, na ordem, na capa e nas páginas iniciais, somente. Visualmente, é tudo bem "limpo". As tramas giram em torno de ações de salvamento. Em regra, as situações de perigo surgem diante de "armas soltas" no Planeta, esquecidas - porém, ativas. Conspiracionismo é uma constante. Dentro de cada capítulo, no entanto, sempre há um tema diretamente abordado. Abaixo, indico cada um deles (destacados em negrito). Para quem não leu a obra, acho que será bacana, pois o objetivo desta postagem é, sobretudo, recomendar essa pequena/grande obra de mais um inglês maluco e moderninho dedicado às histórias em quadrinho.

#01. Bombista. Lunático está dispersando radiação Hawking pela ruas de São Francisco. Ele é um aportador, faz coisas viajarem sem se moverem usando a mente e, há trinta anos, havia sido utilizado em projeto de arma esotérica e biológica. Assim, poderia criar buracos de minhoca para deslocar uma bomba da Rússia até os EUA no exato momento de sua detonação.

#02. Roda Gigante. O programa militar Roda Gigante sai do controle quando um Oficial aprimorado revolta-se e ameaça destruir tudo à sua volta. Acaso consiga chegar às zonas povoadas, distantes da instalações onde se encontra, oferecerá até mesmo risco nuclear, com as explosões dos reatores incorporados ao seu corpo.

#03. Invasão Ideal. Colaborador do projeto Seti@Home é infectado ao observar dados colhidos por seu computador, dando início ao que pode ser uma epidemia. É necessário conter o "vírus" da mesma forma que foi disseminado, por "memes". Ótima história sobre memética.

#04. Os Cem Celestiais. Aborda a expansão de seitas fundamentalistas baseadas em paranoia tecnológica e científica. Um grupo armado ameaça retirar a vida de vários reféns enquanto suas exigências estúpidas não forem atendidas. Entre as exigências está que o Governo australiano entregue o poder "aos deuses multissexuados vindos do espaço além dos pilares da criação". Acredito que sejam veganos.

#05. Céu Grande. Estranhos eventos ligam as vidas de moradores em uma pequena vila isolada na Islândia. Todos alegam experiência divina (ou análoga), envolvendo anjos e sons estranhos. Um agente mágico da Frequência desvenda o mistério com alusões à influência de determinadas frequências em nossa psique, associadas a sistema de túneis subterrâneos. De certa forma, isso me recorda as teorias da Terra Oca e das investigações de Nikola Tesla sobre ressonâncias.

#06. Na corrida. História simples e dinâmica, onde Sita, especialista em parkour, comprova a eficácia do emprego desta técnica em ações de salvamento.

#07. Detonação. Grupo terrorista planeja detonação de bomba em Londres ao mesmo tempo em que assassinaria chefes dos Serviços de Inteligência alemão e britânico, a fim de promover uma Guerra, pois acredita que esta é o estado ideal da raça humana desde que o homo sapiens caçou e exterminou o homem de Neanderthal. Seria a guerra o fomento ao avanço tecnológico e crescimento da economia. Enfim, relação entre guerra e evolução e o tal motor da História dos comunistas, onde devemos cair até mesmo no abismo para dar reboot no sistema.

#08. Sem título. Miranda Zero foi raptada pelo movimento white power Ira de Odin e a Frequência Global possui apenas uma hora para resgatá-la. O objetivo desta trama, além de expor associações racistas, é demonstrar o modus operandi do grupo em uma ação rápida de salvamento. Obviamente, os maiores grupos racistas em atividade, hoje, não são brancos. O Black Lives Matter está aí para análise. Contudo, temos que lacrar sobre o racismo à la Klu Klux Klan.

#09. Sem título. Em Osaka, o agente Takashi é convocado para investigar estranha ocorrência em centro de pesquisa médica local. Ali, descobre-se que, por acidente, cilindros com gás anestésico para fins cirúrgicos explodiram. Os médicos, inalando tais substâncias, manifestaram sua inclinação primordial de culto ao corpo praticando experiências em pacientes com uso de células-tronco e biorreatores, construindo altares de sofrimento, adorando ferimentos e entranhas abertas. A única saída é calcinar o local com bombardeio intenso, evitando o gás espalhar-se ainda mais e livrando os pacientes do sofrimento irreversível.

#10. Superviolência. História cheia de lutas, com bastante sangue, órgãos e membros mutilados, com ênfase no aprimoramento da técnica de biofeedback para combate, mobilizando o potencial do corpo para vencer a dor, curar ferimentos e ganhar força. Além disso, destaca as brigas entre corporações para, mesmo com risco extremo à sociedade, derrubar rivais em licitações públicas. Faltou destacar não existirem grandes corporações financeiras sem o apoio do Estado forte, obeso e em expansão.

#11. Aleph. Trama focada na personagem que lhe dá título, expondo os princípios básicos da criação e manutenção de unidade de salvamento baseada em telefonia com controle central. Vemos o recrutamento de Aleph e seu esforço pela integridade do nome da Frequência Global, diante de uma invasão à sua unidade central, a fim de manter sua credibilidade.

#12. Arpão. Mais uma antiga arma de destruição em massa nos ameaça. Fundamentado na doutrina da retromorte (onde Governos e corporações devem se esforça para diminuir a população mundial em nome da sustentabilidade de nossos recurso básicos, como água e comida), grupo militar criou arpões cinéticos - lanças de carbono muito duro e denso, cuja única função é cair quando, por simples arremesso por tensão, soltarem-se no equipamento que vaga em nossa órbita. No momento do impacto, esses arpões chegam a milhares de quilômetros por hora e à temperatura da ordem da coroa solar. O efeito prático é o da explosão de uma bomba atômica, só que não radioativa. Como este Satélite que carregar os arpões, há dezenas, embora, no momento, não ofereçam riscos de tornarem-se operativos. Boa trama!


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