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Guilherme de Almeida em Filosofia
Soube apenas hoje que regravaram - remake - Matador de Aluguel: sairá neste dia 21, no Prime Vídeo. Quando eu era guri, gostava do filme original. Qual moleque não queria estar na pele de Patrick Swayze, ganhando a vida batendo em vagabundo e metendo a piroca na médica loirinha e magrela? A primeira vez que assisti ao filme foi na Globo, à noite (Tela Quente, SuperCine? Não lembro), e passei dias pensando como alguém poderia matar usando apenas os dedos! Patrick Swayze era o cara. Dançava sem parecer fresco, sempre estava do lado do Bem em seus papeis, comeu Demi Moore melada de barro e, aos 57 anos de idade, morreu pesando menos de 40 kg, devorado vivo pelo câncer, após uma vida de três carteiras de cigarro ao dia e galões de biritas. Além de tudo, dizem as más línguas, que, enquanto morria lentamente, tomava porradas de sua esposa e era mantido em cárcere privado.
O que tirar da vida e da morte de Patrick Swayze? Nada. Ele foi um mega astro hollywoodiano e não posso nem imaginar o baita vidão que teve. Está além de meu alcance de zé ninguém assalariado imaginar as vidas desses sujeitos. Só acho que sua vida terá valido a pena se ele tiver aproveitado cada um de seus dias. Se mesmo com o rabo cheio de cachaça tiver encontrado, todos os dias, pequenos momentos de alegria, ainda que durante alguns minutos, sem pensar em mais nada além disso: viver o aqui e agora.
Lembrei que bons autores escreveram seus primeiros romances após o início da "velhice", a exemplo de Umberto Eco, Jô Soares e Luiz Alfredo Garcia-Roza. Todos alegavam não se sentir com maturidade suficiente para escrever romances. Jô Soares nem queria escrever O Xangô de Baker Street, tendo sugerido a ideia a seu amigo Rubem Fonseca, o qual, após ouvi-la, lhe disse: "Vai lá e escreve então, porra". E assim foi feito. E deu certo. É que amantes da Literatura a respeitam e ficam cismados com a possibilidade de estar escrevendo bosta.
Citei, acima, escritores. Mas serve para tudo. Acho que em todas áreas do conhecimento há estes exemplos: homens (e algumas poucas mulheres, a exemplo de Marie Curie) que, na maturidade, realizaram grandes feitos. À nossa volta também conhecemos pessoas que deram grandes guinadas em suas vidas. Tenho uma amiga que sobrevivia com salário mequetrefe numa prefeitura e, com 45 anos de idade, tornou-se advogada e está embolsando uma grana boa: comprou carrão, casarão e vive cheia de clientela que mal dá conta. Fico feliz por ela, pois é ótima pessoa.
Mas (e aí vem os "no entanto", "entretanto" e "todavia"), não tenho grandes feitos a realizar neste mundo, a não ser consumir seus recursos, defecar, dar boas pimbadas e dormir. Aliás, fica a sugestão: consumam recursos, comam e bebam bem. Não vale a pena economizar pensando em porvir, Mãe Natureza, essas bobagens todas. "Ah, vou reduzir a pegada de carbono, virar vegano e só rodar por aí de bike". Meu caro, a pegada de carbono que os magnatas do mundo querem reduzir é você e sua família. Com robôs e inteligência artificial, os Josés, Marias e Cleitinhos deste mundo se tornarão ainda mais mal vindos do que já o são. Os afortunados querem este belo planeta apenas para eles: suas praias, campos e montanhas. E não os condeno, pois quem gosta de povaréu? Se eu fosse Magnata, habitaria o mais distante possível da ralé. Na próxima pandemia de um vírus qualquer nos matarão com vacinas grafenadas. Próximo apocalipse: pandemia de tromboses e problemas cardíacos misteriosos. Ou soltarão logo ebola e varíola no ar. Enquanto isso, quero meu angus suculento no prato (e gasto muito para isso, aliás), queimar gasolina para não morrer atropelado por aí numa bicicleta e peidar bastante para ajudar no aquecimento global. O mundo é bom assim: quentinho.
Tenho 42 anos de idade e, creio, estou velho. Não tive muitos sonhos e projetos em vida. Dos poucos que nutri, não realizei nenhum sonho. E realizei poucos projetos. E está bom mesmo assim. Já estava há algum tempo num processo de "entrega", de "deixa a vida me levar". Me livrei de alguns poucos rastros de projetos que mantinha porque pararam de fazer sentido. Pouca coisa faz sentido, agora, a não ser tentar viver o dia a dia. Ando, talvez, com apenas um desejo: quiçá retornar à cidade onde cresci, mas nem nisso quero pensar muito. Enfim: para pessoas inúteis ao mundo, assim como eu, meditar sobre o futuro tão obscuro apenas atrapalha. Quanto à inutilidade, só posso ser útil a mim mesmo e, logo, à minha família. E a mais nada. O mundo é muito vasto para tirar meu sono e, ainda assim, creio que ele continuará aqui, firme e forte, mesmo após a sexta extinção. Esta, aliás, está demorando a vir até demais. Vladimir Putin faria um grande favor se apertasse o botão vermelho. Esta sociedade onde "palavras machucam" está precisando urgentemente de uma Guerra.
E claro que não: não estou feliz, dando pulos de alegria, plenamente satisfeito com minha vida e os rumos que ela tomou. Acho que essa tal felicidade não existe, então sou grato pelos poucos momentos, aqueles poucos minutos onde me sinto feliz. Geralmente - não sei o porquê - aproveito tais breves momentos durante a calmaria do pôr-do-sol, naquela hora de nuvens róseas. E, claro, ao lado de minha filha, em regra no final da noite, quando ela já está entregue ao cansaço do dia e só quer jogar conversa fora antes de dormir, compartilhando comigo as "grandes dúvidas" e "infindáveis dramas" que assolam crianças de sua idade. Mas, no geral, o cotidiano é só isso: vazio, busca do que fazer para ocupar o tempo de forma "proveitosa", pagamento de contas sem fim etc. É a rotina de um bonobo mediano, mais nada.
Não tenho mais sonhos nem projetos. Não sou um grande realizador a deixar legados literários ou científicos à humanidade. Mas posso ser um Patrick Swayze sem dinheiro e morrer cedo, comido por doenças escrotas e na absoluta merda. Então preciso aproveitar apenas - como dizia minha avó materna - "um dia após o outro com uma noite no meio". Sim, ela sempre falava isso.
Ah, sobre o remake de Matador de Aluguel, acho que não verei. O original envelheceu mal, aliás. Então imaginem um remake daquilo ao sabor dos tempos imundos onde nos encontramos. Mas... fica a sugestão para quem quiser tentar.
Abraços desiludidos e até a próxima.