quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O bromance imaginário em Dois Papas

"Óia as bostas que fazemos aqui, véio camarada."

Há coisas que o filme Dois Papas de Fernando Meirelles não mostra. Assim, por exemplo, não cita o discurso de Joseph Ratzinger no Bundestag, quando, em resumo, destacou a necessidade urgente do Ocidente em defender as heranças da fé cristã, do direito romano e da filosofia grega. Durante esse discurso, algumas das pessoas mais poderosas da Europa saíram do Parlamento. Também nada citou da preocupação de alguns setores cristãos com o avanço da revolução cultural em seu seio. Na trama de Meirelles, o vasto conhecimento histórico, humano e cultural de Bento XVI a justificar suas preocupações foi soterrado pela conduta de padrecos tarados em transar com coroinhas.

Na contramão, a mudança de Jorge Bergoglio para melhor - sua humanização, por assim dizer - se dá após contato com obras voltadas à teologia da libertação, onde cada verso bíblico é politizado sob a batuta da luta de classes, a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire (o gênio das frases desconexas) e algumas outras porcarias gramscianas. Francisco, pois, é o Papa bacana e esclarecido - ao contrário de Bento XVI, câncervador, antiguado e eterno acólito da juventude hitlerista.

Tento imaginar como Joseph Ratzinger sentiu-se ao ser sitiado, no Vaticano, por forças sombrias que queriam, a todo custo, avançar o "motor da História" para elevar ao Pontificado o extrato do que há de pior no globalismo. Isso, em momento algum, foi abordado. Na trama, o velhinho pediu arrego porque estaria "cansado".

Mas o filme é bom? Sim, é bacana. No final das contas, traveste de ternura o pouco que sobrou da Igreja. Quando estiver com tempo livre, assista. Jonathan Pryce e Anthony Hopkins estão impecáveis na película e, em diversos momentos, nos fazem ver, em suas faces, as verdadeiras personagens históricas.

Indico este filme porque, em seu âmago, conquanto tente dar uma conotação partidária muito forte a sacerdotes católicos e seu papel no mundo, ao menos o faz com certa dignidade. Diferente, por exemplo, do que vimos no panfleto ideológico do Porta dos Fundos com sua produção natalina. Quanto a esta turma, destaco que acompanhei o canal desde seu primeiro vídeo, logo após o sucesso de suas esquetes curtas CSI Nova Iguaçu. Na época de conexão discada, fui assíduo leitor do site Kibe Loko, aliás. Ressalto, ainda, não possuir qualquer problema com sátiras de qualquer ordem e abomino o politicamente correto. Comentei brevemente sobre isso, aqui, quando citei o que considero ser o pior gibi lido por mim. Existe, neste caso do Porta dos Fundos, a mesma intenção de ataque gratuito e sem graça a toda uma comunidade religiosa, especialmente aos evangélicos. Tentaram apenas ofender, deveras. Sou contra, no entanto, qualquer forma de censura ao conteúdo e até mesmo judicialização do imbróglio. Penso que, num regime de mercado, o que você pode fazer é apenas não consumir ou boicotar realizações negativas. E só. Para não me estender muito sobre o assunto, recomendo apenas a opinião de Luiz Felipe Pondè a respeito, abaixo.

Abraços litúrgicos e até a próxima.

4 comentários:

  1. "o velhinho pediu arrego porque estaria "cansado"." - um intelectual que, quando saiu da academia para o mundo real, percebeu o tamanho da bosta em que se atolou e resolveu inventar "aposentaria" papal, para não morrer tão rápido do stress ou quem sabe envenenado como já aconteceu com um ocupante anterior do cargo; afinal deve ter medo de pagar as contas no inferno kkkkkkk

    abs!

    - Scant, o blogueiro solitário

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  2. Pôxa, ainda não vi a terceira temporada de Stranger Things.
    Abraços, Fabiano!

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