sábado, 31 de agosto de 2019

Os livros de Murphy Cooper


Apenas recentemente assisti a Interestelar (2014), filme de Christopher Nolan que aborda um possível futuro apocalíptico onde a raça humana é quase devastada quando a própria natureza volta-se contra nós. O filme é bom, aborda temas interessantes sobre sistemas de espaço-tempo e, claro, acerca da necessidade humana em sobreviver a qualquer custo, a Força da Vida de que nos falaram gênios como Eisner e Viktor Frankl. Não me estenderei bastante sobre a produção, pois há várias postagens a respeito por aí. O que me chamaram atenção foram os livros na estante da personagem Murphy Cooper. A biblioteca do quarto da garotinha é utilizada como um relevante núcleo da trama (não falarei muito porque seria spoiler). 


Acredito que a escolha dos títulos depositados nas prateleiras de Murphy não foi aleatória. Dentre dezenas de volumes, o Diretor destacou as obras: A Dança da Morte (The Stand) de Stephen King (1978), Moby Dick de Herman Melville (1851) e uma coleção de Sherlock Holmes de Sir Arthur Conan Doyle. Vejamos: A Dança da Morte aborda um futuro igualmente apocalíptico onde - estima-se - quase 99% da população mundial teria sido dizimada pelo vírus Capitão Viajante. No romance de King, dois grupos antagônicos lutam pela sobrevivência, chefiados por Mãe Abby (o Bem) e Randall Flagg (o Mal). De qualquer forma, o objetivo do remanescente humano é um só: perpetuar-se, repovoar a Terra e, assim, não permitir nossa extinção. Há, pois, uma clara relação com o mote de Interestelar.


O romance enciclopédico de Herman Melville trata, essencialmente, da força humana contra as forças da natureza. O velho marinheiro Ahab dedica sua vida, a bordo do navio The Pequod, a perseguir a poderosa baleia cachalote que dá nome ao livro, em mares violentos. Gosto de chamar Moby Dick de a "origem" épica para a novela O Velho e O Mar, de Ernest Hemingway. A premissa é a mesma que a do filme ora abordado: a resistência humana frente ao querer das forças naturais.


Já as obras de Conan Doyle também merecem lugar entre os livros de Murphy Cooper. Interestelar é, além de ficção científica de alto nível, uma história detetivesca, onde a perspicácia humana é posta sempre a prova, em vários momentos do Tempo, para plantar e decifrar enigmas que salvarão nossa espécie da extinção. É Sherlock Holmes do começo ao fim.


Não encontrei, contudo, nenhum exemplar de 2001: Uma Odisseia no Espaço de Arthur C. Clarke. Pode estar lá na estante da garota, difícil de ver. Só que merecia, mesmo, algum destaque. É que o filme é direta referência a obra literária/cinematográfica de Clarke/Kubrick. Da mesma forma que o núcleo da trama é a criação de um hipercubo em 2001 (na forma de hotel para o astronauta David Bowman), na produção de Nolan isso se dá na arquitetura do quarto de uma garota, com ênfase nos livros. A relação íntima entre o personagem Matthew McConaughey (Cooper, pai de Murphy Cooper) e o computador TARS remete à relação de David Bowman com HAL 9000. A cena em que o astronauta Cooper escala o hipercubo de livro remete a Bowman flutuando dentro do controle de memória de HAL. Em vários momentos, Interestelar faz referências estéticas a 2001 de Kubrick.


Enfim: para quem ainda não viu o filme, recomendo. É um bom investimento de quase três horas de duração. Mesmo que você fique perdido nos aspectos científicos, vale a pena pelo deleite estético e filosofia de vida, persistência e força de vontade.


Abraços cósmicos e até a próxima!


Postagem publicada originalmente no ano de 2015

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