terça-feira, 11 de junho de 2019

Labirinto Verde ou Twin Peaks franco-belga


- O que você quer?
- O que todos querem, Louis: Perrier com limão, 
paz mundial e pescaria no Caribe.

Comecei a assistir à série Zone Blanche e achei interessante parar para, aqui, recomendá-la. Não é uma daquelas grandes produções que ficarão na posteridade. Contudo, sai do lugar comum e, por minhas impressões, bastante se assemelha a Twin Peaks, quanto à essência mágica. Na trama, a pequena cidade de Villefranche chama a atenção do Parquet francês diante da imensa quantidade de homicídios ali ocorridos. O Procurador chega ao local para tentar compreender isso, junto à Delegacia chefiada por Laurène Weiss, cujo passado é tão sombrio quanto a densa floresta onde encrava-se o vilarejo. E aí chegamos à obra icônica de David Lynch e Mark Frost: o primitivo que caminha entre as árvores e toma quando quer. Algo divino: concede e retira.

Na trama, tudo em gira em torno da floresta. A economia local é movida pela madeira cercada de sortilégios. Alguns habitantes parecem conhecer mais do que dizem e o lugar é chefiado pela família Steiner. Aparentemente, tudo ali é conectado por magia ancestral; ou melhor: xamanismo, a arte mais pura e primeva da relação entre o homem, a natureza e o divino. Destaco: o xamanismo é pré-pagão e, creem alguns magistas, o Graal a ser redescoberto por nós, pobres cidadãos da era do consumo vazio. Isso tem tudo a ver com Twin Peaks, seriado comentado por mim desde o blogue anterior e, aqui, nestas postagens: Twin Peaks e a Magia RúnicaA História Secreta de Twin Peaks por Mark FrostTwin Peaks na NetflixAleister Crowley, capetas e Fábio Assunção.



Em sua agradável fotografia fria, Villefranche também nos arremessa à psicogeografia, sendo a região um vórtice perpétuo para a violência, de certa forma.

Certamente, por se tratar de série engajada com preceitos da atual ordem mundial acéfala onde vivemos, algumas abordagens desagradam. Assim, por exemplo, o grupo terrorista de ecodesocupados que chega à cidade para lutar pela Mãe Natureza é visto com parcimônia. Nos quinto e sexto episódios, a temática sexista se revela mais forte que tudo, onde todo macho é escroto e as mulheres são boazinhas. Desta forma, uma bandida procurada por seu antigo bando e seu ex companheiro, mesmo sendo equivalente aos demais, é agraciada com desfecho misericordioso. Noutro momento, um homem casado que curte BDSM e outras porcarias deve ser punido por satisfazer suas taras com as vadias locais, mesmo que tudo ocorra consensualmente. O ritmo é mais ou menos esse, para nosso desgosto.

Enfim: fica a breve sugestão a quem pretende assistir a algo novo. As melhores sacadas dos realizadores foram: temporadas curtas, com apenas oito episódios cada e, dentro de cada um desses, o acontecimento e a resolução de um crime específico, sem ganchos chatos.

Abraços mágicos a todos e até a próxima.

4 comentários:

Comente ou bosteje.