sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Dellamorte Dellamore


A melhor saga de Superman escrita é o Supremo de Alan Moore. O filme mais Hellblazer a que já assisti foi Coração Satânico de Alan Parker. E o melhor filme de Dylan Dog feito é Dellamorte Dellamore, baseado do romance homônimo de Tiziano Sclavi, criador do personagem. Só que Supremo não tem Superman, Coração Satânico não possui relação alguma com Constantine e Dellamorte... é sobre a vida do coveiro Francesco Dellamorte e sua incessante luta contra os mortos que teimam em retornar após sete dias do sepultamento.

Dellamorte é Dylan Dog por ter o mesmo pai: Sclavi. E por outras semelhanças. Primeiro, que o personagem dos quadrinhos foi inspirado fisicamente no ator Rupert Everett (protagonista no filme). Além disso, se não fosse pela camisa branca, o coveiro teria idêntica caracterização. E o horrível revólver Bodeo Model 1889 também está presente, assim como o Fusca branco - embora não conversível. Só que, ao invés do Groucho das HQs arremessar o revólver em momentos de tensão, quem o faz no filme é o assistente Gnaghi. E não poderia ficar de fora uma femme fatale, assim como nos quadrinhos. No cinema, Anna Falchi dá corpo a She. Ou melhor: um baita corpaço.

Ainda quanto aos elementos de identidade entre os dois personagens, destaco o mote dos mortos-vivos. Este, creio, é o núcleo da origem, do que está por trás do passado nebuloso de DyD. E, claro, a HQ nunca foi apenas outra história de terror nas bancas. Penso que se trata de um personagem que transita pelo o surreal e o onírico com desenvoltura. A tangibilidade da realidade em Dylan Dog é questionada constantemente. E, igualmente neste ponto, Dellamorte segue a mesma linha.

Na verdade, Francesco Dellamorte foi o protótipo de Dylan Dog. Este surgiu em 1986 e aquele três anos antes. Ainda houve uma edição especial de DyD protagonizada pelo coveiro, trata-se de Orrore nero, de 1989. Nesta HQ, os personagens são apresentados como alter egos recíprocos, em enredos cruzados entre Londres e Buffalora. Ah, e enquanto o investigatore dell'incubo dedica uma vida a montar seu galeão de madeira em miniatura, o zelador italiano nunca conclui o crânio humano em pedaços sobre sua mesa.

Na trama, Francesco Dellamorte mantém em segredo o fato de que todos estão ressuscitando. E o faz por medo de perder seu emprego de zelador do local, onde aliás possui sua residência, também cedida pela prefeitura da pequena cidade de Buffalora. Uma dúvida persiste em sua cabeça: aquele fenômeno ocorre apenas regionalmente ou é mundial? Entre sepultamentos e embates com zumbis, topa com a enigmática "She", que lhe reaparece sob nomes diversos ao longo da história. Aos poucos, de terror, a produção dá uma guinada para o nonsense e, ao final, ainda consegue nos arrebatar questionando a existência, o mundo real.

Eu conhecia o filme mas só achei interessante recomendá-lo, aqui, após as últimas postagens sobre o investigador do pesadelo. É que o filme estrelado por Brandon Routh, além de meio boca, não tem nada de DyD, além do título. Recentemente resolvi assisti-lo novamente e acabei achando de graça para baixar. Para minha defesa: ainda procurei locar no Youtube, sem êxito. Se você tiver interesse em ver este divertido horror digno de medalha de ouro no saudoso Cine Trash da rede Band, visite este site. Ou acesse o canal de nosso parceiro dylandoguiano (vídeo abaixo) e veja pelo link ali disponível.

Foi bom revê-lo. Ainda mais porque eu achava que Rupert Everett falasse italiano. Só que agora, vendo os créditos, descobri que sua voz foi dublada pelo famoso Roberto Pedicini.

Até onde pesquisei, o romance escrito não teve tradução para o português sequer lusitano. É uma história curtinha, quase uma novela. Fica a sugestão para que uma editora como Darkside Books, especializada em terror/horror, o edite por estas bandas. Acredito ser este o momento mais que oportuno, diante da retomada de publicações dylandoguianas em nossas bancas e livrarias.

Abraços e... "Gna"!


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