Jim Starlin [ Batman - O Messias & Odisseia Cósmica ] [ HQ ]

Jim Starlin é conhecido por suas sagas cósmicas e, especialmente, pela criação de uma das figuras mais intrigantes e instigantes do universo Marvel: Thanos. Não possuo muita coisa do autor na coleção. Mas tenho duas HQs excelentes que sempre merecem releitura: Batman – O Messias e Odisseia Cósmica. A Panini já editou esses encadernados há um tempo, em brochura com papel similar ao LWC. Comprei-os na época do lançamento (final de 2007). Não sei como está sua disponibilidade em sebos, mas recomendo que adquiram, acaso os encontrem em bom estado.

Reservei uns dias para reler boas histórias de heróis. E Starlin é um autor que pede para ser relido. Ele afirma integrar uma indústria que não produz nada – em termos literários – significativo, mas mero entretenimento barato. Acredito que a indústria de HQs produz muito lixo, assim como as demais: cinema, música, entre outras. No entanto, acho exagero taxar quase tudo de “descartável”. Creio que a nona arte produziu - especialmente nas décadas de oitenta e noventa (sem desmerecer gente como Winsor McCay, Eisner e outros gênios, obviamente) - algo muito superior ao realizado pela dita haute culture. Enfim, isso é assunto para outras postagens. Vamos falar desses ótimos gibis citados.

Em O Messias, destaco um Batman pouco mostrado nas HQs: instável emocionalmente, debilitado e com arroubos de violência. Na trama, o enigmático Diácono Blackfire conduz, da gigante rede de esgotos, os indigentes de Gotham numa empreitada contra a marginalidade que assola a superfície. Logo, divide a população e revela seus planos (claros ao leitor desde o início) de tomar o poder político para si. A população fica dividida. As autoridades constituídas são assassinadas. Batman, sob o efeito de drogas e forte sugestão, torna-se acólito de Blackfire por um tempo e, então, conhecemos seu lado ainda mais sombrio: um vingador que sente vontade de extirpar o crime de Gotham definitivamente, pela raiz, com o uso da força extrema. É emblemática a passagem onde ele delira fuzilando o Duas-Caras, sem remorso, sentindo-se feliz por livrar-se, de vez, de um criminoso sanguinário. A natureza de Blackfire também é emblemática, pois concluímos a leitura da HQ sem sabermos se realmente há algo de místico em si.

Outro mérito de O Messias, além do bom roteiro, é a arte de Bernie Wrightson, um dos artistas responsável pela arte gótica marcante de O Monstro do Pântano.

Quanto à Odisseia Cósmica... bem, primeiramente, tem arte de Mike Mignola, o gênio dos espaços sombrios, criador de Hellboy. E tem tudo o que uma odisseia pede: grandes eventos, grandes vilões e heróis, com um final quase apocalíptico. A trama é interessante. Darkseid toma conhecimento de que uma equação denominada "antivida" representa um risco iminente à existência. Assim, ele alia-se ao Pai Celestial de Nova Gênese e recruta uma equipe para conter esse possível fim da vida: Batman, Superman, Caçador de Marte, John Stewart (Lanterna Verde) e Jason Blood (a contraparte humana do demônio Etrigan). Logo, descobrimos que a equação não é meros dados matemáticos: trata-se de uma entidade cônscia de seu extremo poder e com ânsia de adentrar nos universos de nossa dimensão.

A graça da história fica por conta da arrogância de Darkseid, que, num dado momento, se dirige a Batman da seguinte forma: "A questão envolve ciências que criaturas com seu intelecto não compreenderiam". E, para variar, é justamente o Morcego que arruína os planos secretos do senhor de Apokolips, dando a este deus da guerra um relevante aprendizado acerca de não subestimar os que lhe parecem pequenos. E lições não faltam para Órion (sobre tolerância a outras raças) e a John Stewart, que, inclusive, chega a apontar uma arma para própria cabeça, cogitando suicídio (algo evitado nas HQs convencionais do gênero).

Duas ótimas HQs do gênero super-heróis. Provas de que não há personagens ruins; mas, sim, péssimos autores.