sexta-feira, 20 de julho de 2018

História e Glória da Dinastia Pato [ Uma Saga dos Patos ]


No final de 2009, a Editora Abril republicou História e Glória da Dinastia Pato (Storia e Gloria della Dinastia dei Paperi, no original), obra querida pelo público Disney, produzida na boa fase italiana pelo roteirista Guido Martina e pelos ilustradores Romano Scarpa e Giorgio Cavazzano. A obra foi dividida em dois volumes, formato americano, capa cartonada e papel couchê fino (LWC), ao preço de capa de R$ 14,95. Atualmente, os preços variam de acordo com o sebo onde você comprar. A distribuição foi precária e, em muitas bancas, abundou o primeiro volume; noutras, o segundo. Muito leitor não completou sua coleção em razão desses problemas, a não ser comprando de vendedores famosos pelos elevados preços. A trama gira em torno de um misterioso baú protegido por Tio Patinhas, no interior do qual há várias moedas cunhadas pelos antepassados dos Patos, registrando, através de magia, toda a história e glória de uma Dinastia de 2500 anos. No decorrer da história, também encontramos antepassados dos Ratos, bem como de Pateta, dos Metralhas e de Patacôncio, eterno inimigo de Patinhas, juntamente com o velho Mac Mônei (este, todavia, não aparece na trama).

A impressão da obra se deu no Chile, e não nas gráficas onde a Abril comumente imprime seus quadrinhos. Nota-se de cara: a qualidade é melhor do que a usual, similar à coleção As Obras Completas de Carl Barks e A Saga do Tio Patinhas. No prefácio do segundo volume, é interessante notar que os editores nacionais definem a publicação como “gibizão de luxo”. Hilário, não? Uma mera brochura, na Editora Abril, é chamada de edição de luxo, apenas por não ser editada em papel jornal, formatinho e impressão porca.

Mas, parabéns a Abril por editar a obra. Essa saga é importante no universo disneyano. Certamente, não guarda nenhuma relação com outras tentativas de contar a História dos patos, como em A Saga do Tio Patinhas, de Don Rosa, ou no brasileiríssimo gibi A História de Patópolis. E tanto faz. Cada artista tenta dar sua versão (visão) sobre esse Universo encantador. Essa missão, sendo executada com elegância, tá valendo. E mais: os extras encartados nos dois volumes são pertinentes e utilíssimos para compreender a razão de tantos cortes nas edições nacionais passadas. Além disso, ainda ganhamos glossário de personagens e uma bacana árvore genealógica da família pato. Além disso, foram trazidos, aos volumes, dados de pesquisas que indicam os diversos erros de cronologia entre os fatos ali narrados e a história oficial. Entretanto, a quem interessa essa imprecisão acadêmica? O objetivo do quadrinho é apenas entreter, de maneira descompromissada. E, afinal, não são muitos os escritores de quadrinhos que prezam pelo rigor técnico em suas narrativas. É difícil pedir um panteão de autores a exemplo de Alan Moore, Gaiman e Eisner escrevendo historietas do Mickey e companhia.

Uma curiosidade sobre os cortes nas publicações passadas é o momento político brasileiro. Assim, por exemplo, o quinto episódio não pôde se chamar “O Rei da Arena” em razão de “Arena” ser denominação de agremiação política. Uma pequena referência à lentidão dos Correios escocês também foi apagada, mesmo suprimindo quadros, no afã de, talvez, não ofender a Instituição postal tupiniquim. Os “bons costumes” também justificavam intervenções nacionais, como na supressão ao enriquecimento do antepassado Patinus diante da invenção do “minikilt” (kilt, o saiote masculino escocês) para economizar pano. Qualquer referência a tabaco também foi suprimida, chegando a prejudicar a arte do quadrinho na medida em que os estúdios da editora Abril apagavam charutos e cachimbos de ilustrações.

Aliás, é bom destacar esse descompromisso das HQs com moral, bons hábitos e costumes. Vejo, comumente, os cegos e árduos defensores dos quadrinhos Disney afirmarem que todos os seus títulos são educativos e inteligentes, sem exceção. Elogiam o Mickey como um baluarte da justiça e perspicácia. Bacana essa afirmação. No entanto, pura baboseira. O Universo Disney não é só Mickey. Zé Carioca é o símbolo da preguiça e do oportunismo barato, além da covardia. Pato Donald representa a ira cega e a burrice diante dos fatos mais simples do cotidiano. Outros (maus) exemplos não faltam. E, neste volume ora comentado, vemos a busca desenfreada por fortuna do Tio Patinhas, sempre avarento e disposto a tudo por alguns trocados a mais em sua mega Caixa Forte, uma personificação do materialismo inconsequente. Em um determinado ponto da história, aliás, os antepassado de Huguinho e seus irmãos disparam essa: “O único método de ação que o Tio Patinhas conhece é o furto.” (v. II, p. 69, quadro 03). E isso importa? Para mim, não. Quando pego HQs Disney para ler, não procuro erudição e informações precisas. Quero somente diversão ao lado daqueles personagens sempre presentes em minha vida. Assim, por exemplo, não compro o título Saiba Mais da Turma da Mônica, embora seja fã de todas as criações de Maurício de Sousa. Sei que há um público certo para esse tipo de publicação “educativa”, mas sempre achei tal material enfadonho, desde criança. Considerei apenas interessante fazer esse “aparte” para oferecer minha opinião aqueles que detonam tudo o que é título por aí (em especial, os que saem dos estúdios MSP) apenas para enaltecer, a qualquer custo, os quadrinhos vendidos pela Abril.




Voltando ao assunto. Essa republicação traz as duas histórias até então inéditas no Brasil, publicadas originalmente na Itália em 2005, em razão do aniversário de 35 anos desta saga dos patos. Os episódios que compõem Petronius Patinus e a Invasão dos Bárbaros foram escritos por Alberto Savini e ilustrados por Andrea Freccero. Falando nesses artistas, destaco que o material extra elaborado pela Abril traz, resumidamente, um pouco da vida e obra de todas as pessoas envolvidas no trabalho. Muito bacana! Entretanto, nem um pouco bacana foi a não inclusão, nesta publicação, da aventura extra produzida no Brasil em 1987, pelos estúdios Disney brazuca. A história chama-se A Quinta Mosqueteira, cujo roteiro foi uma criação coletiva, com arte de Euclides Miyaura. A justificativa para não incluir essa história foi “não fazer parte da saga concebida pelos autores italianos”. Ora, o episódio comemorativo italiano acima mencionado também não fazia parte da concepção original, mas foi incluído!

Nunca compreenderei certas escolhas editoriais. Este é um caso. A história poderia muito bem ser lançada em um TPzão, ao invés de divido em dois volumes. E um papel pisa brite estava de bom tamanho, desde que com uma boa impressão, sem borrões. A Panini vem fazendo esse bom trabalho na publicação de Hellblazer: Origens, por exemplo. Afinal, não há excesso de detalhes, na arte, que mereça um papel mais caro para melhor definição. Ou ainda: por que não por essa história, nas bancas, em um almanacão, similar ao Big Disney? Ou então, já que a pretensão da editora – conforme dito acima – era publicar “gibizão de luxo”, poderia ter logo utilizando papel offset e encadernação verdadeira, com costura e capa dura. A Abril, em tempos áureos, editava livros Disney com esmero, a exemplo de Mickey Especial e Cinquentenário Disney. Só que fazer um trabalho “normal” e chamar de “luxo” não desce. Foi-se o tempo onde qualquer HQ com lombada quadrada e miolo um pouco melhor do que papel jornal seja “edição de luxo para colecionador”. Os consumidores brasileiros de quadrinhos não engolem mais essa, depois do elevado nível que editoras como Conrad, Devir e Panini deram aos nossos gibis.

Quem é fã de quadrinhos Disney procure ter em sua coleção o volume História e Glória da Dinastia Pato. Procure em sebos. Vale a pena. São episódios simples e divertidos, como uma boa HQ do gênero deve ser.

Relação de episódios:

  • Volume I

O Ribombo Lunar
Os Papiros de Pah-Tih-Nhas
Os sestércios de César Pateticus
As libras esterlinas da trisavó Donalda
O Rei da Arena

  • Volume II

Donald e O Fora-da-Lei de Pensacola
Os Canhões do Mississipi
Tio Patinhas e O Ouro do Klondike
Petronius Patinus e a Invasão dos Bárbaros (I e II)

6 comentários:

  1. Aparentemente editora abril caminha a passos largos para o fim e nem mais publica os quadrinhos Disney.

    abs!

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    1. http://www.agibiteca.com.br/PesqlinkPortal.aspx?Code=C_001

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    2. Agibiteca andou tendo problemas com a panini. Tomou not extrajudicial salvo engano. Jaja acho q removem até o conteúdo Disney antigo.

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  2. um ponto a ser considerado é que não importa a versão contada, por alguma razão a moeda do Donald como Corsário Mascarado nunca é inclusa quando as moedas são reunidas, além de que a moeda do tio Patinhas como astronauta não se encaixa de forma alguma nas histórias.

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