segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Revisitando Belle de Jour [ Cinema ] [ Postagem republicada de 2013 do antigo Blog do Neófito ]

Semen retentum, venenum est.

As videolocadoras estão acabando em razão da pirataria. Acho até que demorou. É complicado imaginar como um negócio de aluguel de DVDs pode dar certo quando camelôs vendem dois filmes por R$ 5,00, ou menos. Além disso, não raro alugamos algo para, em casa, não conseguir rodá-lo de tantos arranhões. Na Cidade onde moro há alguns anos, quase não existe mais locadoras de vídeo, nem existe cinema. É quando agradeço por esta ferramenta quase mágica chamada internet com banda larga, que me proporciona assistir a filmes praticamente impossível de encontrar. Foi assim que revi Belle de Jour numa ótima resolução. E ainda fico fascinado com esse filme.

Sei que, para os dias de hoje, esse filme não ofende a honra de ninguém. Primeiro, porque honradez é algo em extinção. Segundo: o mundo, hoje, é dominado por uma putaria desenfreada, onde crianças trocam brinquedos por sexo e casamentos não duram quase nada, em razão da falta de vontade de ambas as partes em abrir mão de parcela de sua liberdade. Se Eric Hobsbawm fosse vivo, certamente escreveria o quinto volume de suas "Eras": A Era da Sacanagem.

Na trama, Catherine Deneuve (como Séverine Serizy) é uma esposa mimada e desocupada, que passa os dias pensando em relações sexuais sádicas, quase sempre envolvendo chicotes e cordas. Aquele ditado é verdadeiro: "Cabeça vazia é oficina do Diabo". O marido médico (Jean Sorel, como Pierre Serizy) é um trouxa que não se preocupa em bate o ponto na patroa, deixando-a na mão e correndo o risco de deixá-la para o Ricardão. Não demora até a sonsa frequentar um cabaré (apenas pela manhã, daí o título "A Bela do Dia") e fazer programas. Os momentos no puteiro são memoráveis: cada depravado pior do que o outro! E sempre teremos a eterna dúvida: o que será que o chinês gordinho guardava naquela caixa que impingia medo até às prostitutas mais experientes? E ver o rostinho angelical de Catherine Deneuve contrastando num rendez-vousé um deleite à parte. Mas, sem dúvidas, nada se destaca mais nessa obra-prima de Luis Buñuel do que as sugestões à pedofilia, tanto da infância de Séverine quanto na colegial que reside no cômodo acima do bordel de Madame Anaïs, objeto de desejo de vários clientes. Algo, certamente, mostrando com mais reserva nos dias contemporâneos - onde não existe vergonha na cara, mas fingimos que somos politicamente corretos.

Quem nunca viu essa obra de arte, não perca tempo. Há muito lixo estreando todos os dias. Dê um crédito a essa produção francesa da década de '60, que não possui nem duas horas de duração. O final delirante (ou imaginativo?) nos deixa com aquela sensação de "Porra, que filme!". O roteiro foi adaptado pelo próprio Bruñel do romance homônimo de Joseph Kessel.

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