domingo, 19 de fevereiro de 2017

O Riso dos Outros e o limite político do humor [Documentário]


A epígrafe de O Xangô de Baker Street é uma citação de Ludwig Wittgenstein, e diz o seguinte: "Humor não é um estado de espírito, mas uma visão de mundo.". Jô Soares não poderia ter sido mais feliz na escolha do pensamento que melhor nos receberia nas páginas de seu primeiro romance. Também acredito nessa ideia. Assim como creio que "o limite do humor é a graça". Enquanto me fizer sorrir, está valendo, mesmo que toque fundo nos esteriótipos onde possa me enxergar, maus hábitos dos que me são mais próximos e nas mazelas sociais que encaro diuturnamente.

Mas sei que muitos não pensam assim, como notamos no vídeo O Riso dos Outros. Esse é o título do documentário abaixo, dirigido por Pedro Arantes e patrocinado pela TV Câmara. Embora centrado na comédia de stand-up, possui diversos trechos de entrevista com o cartunista Laerte. Além dos comediantes, representantes de organizações civis e até mesmo o Deputado ex-BBB Jean Wyllys dão seu ponto de vista. 

Acho interessante, sobretudo, a sinceridade dos humoristas em admitir que não há humor sem alvo, sem tocar numa ferida, numa mazela social, em nossa vícios e hábitos mais reprováveis. Acho lamentável, por outra via, pessoas como Jean Wyllys e líderes de movimentos sociais agirem de uma forma quase extremista contra essa liberdade de riso, sendo fanáticos na defesa do insano "politicamente correto" que está contaminando a vida em sociedade, sufocando-a. Parecem o venerável Jorge de Burgos - personagem do romance O Nome da Rosa - atacando o livro de comédia supostamente escrito por Aristóteles. Pensamento de Idade Média para quem se diz de vanguarda, em resumo.

Cresci vendo Renato Aragão fazendo piada com sua cabeça chata de cearense. Zacarias era azucrinado por ser careca e nanico; Dedé, pelas "viadagens"; e Mussum não era chamado de afrodescendente, mas de "azulão"! Os Trapalhões agradavam a todos, sem poupar ninguém. Mesmo sem ser velho, ainda puder ver muito de Chico Anysio, humor inteligente (e sem frescura). Não havia essa onda de burrice pelo "politicamente correto", e era muito o que se conseguia dizer.

Mas, claro, isso é o que penso. Recomendo bastante este documentário (disponível na íntegra na internet), que evidencia bem o "mi mi mi" irritante que se tornou mania nacional de grupos dispostos a chamar atenção. No final das contas, toda essa briga não passa de disputa de poder e prestígio. É como a briga entre as bancadas que tentam ser conservadoras e as do Arco-íris em nosso Parlamento: mera disputa de espaço e luta pela perpetuação no Poder, com ambos os lados valendo-se das mesma armas mesquinhas e intolerantes para agradar seu curral, enquanto o "bem comum" fica na eterna fila de espera.

O vídeo a seguir é um exemplo do humor inteligente que se pode fazer sem o politicamente correto patrulhando. Salve, Chico!

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