segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O Mensageiro do Diabo [ Cinema ]



Desempregado e com medo que a miséria da depressão americana assole sua família, Harper rouba dez mil dólares de um banco e, no percurso dessa empreitada, retira a vida de dois homens. Por isso, vai preso. Enquanto aguarda a morte na forca, conhece o vigarista/pastor/lunático Harry Powell, que pretende descobrir onde o dinheiro foi escondido. Após a execução de Harper, Harry vai à sua cidade e aproxima-se de sua antiga família (ex esposa e filhos), para, ocupando-lhe o lugar de chefe de família, descobrir - em especial junto às crianças - onde o objeto do roubo encontra-se. Esse é o mote do filme estranhamente intitulado, no Brasil, de O Mensageiro do Diabo (The Night of the Hunter, 1955), dirigido pelo brilhante ator Charles Laughton.

Eu não esperava encontrar, numa produção cinematográfica da década de cinquenta, a inserção tão profunda da paranoia religiosa, nem a psicopatia que, de delírios cristãos, daí pode surgir. Também foi interessante a discreta referência à prostituição infantil, quando uma das crianças adotadas pela personagem Rachel Cooper (Lillian Gish) pede a Harry Powell que lhe compre sorvete e uma revista para que possa "acompanhá-lo". Mais à frente, esta mesma criança confessa à sua tutora que costuma receber dinheiro para "sair com homens". Além disso, a concupiscência entre crianças também é tocada, quando a noite da pequena cidade para onde John e Pearl Harper fogem é brevemente explorada. Para um filme bem antigo, também espanta a abordagem do bullying que tanto as crianças quanto os adultos dispensam aos filhos de Harper. A liberalidade esquizofrênica feminina fica por conta de Icey Spoon (personagem de Evelyn Varden), que, em várias cenas, afirma sua "independência" diante de seu marido, inclusive a sexual.

Acredito que, além do ótimo roteiro bem conduzido pelo genial Charles Laughton (aliás, este foi o único filme que ele dirigiu, diante das críticas iniciais negativas), o grande trunfo da película é a fotografia primorosa, explorando bem todo o potencial que a ausência de cores nos oferece. Esteticamente, é uma obra prima; refilmada como A Noite do Caçador (1991), não teve muito sucesso. Filmão que recomendo!

The Night of the Hunter. Suspense com 93 minutos. Ano de Lançamento (EUA): 1955, por United Artists / Paul Gregory Productions. Distribuição por United Artists / Columbia Pictures Corporation. Direção de Charles Laughton e roteiro de James Agee sobre livro de Davis Grubb.






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