terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

As referências culturais em "Pavor Espaciar" de Gustavo Duarte [HQ]



Pai do céu. É o demo!
Virge santíssima! 
O robô gigante assombrado dos inferno si apoderô de meu primo!

O tipo de diálogo acima dificilmente seria visto nas publicações atuais de uma revista da Turma da Mônica. Mas é o que encontramos em Pavor Espaciar, o terceiro álbum do selo Graphic MSP. São 86 paginas de um encadernado com tratamento primoroso, impresso em papel cuchê de elevada gramatura e colorido. Ao final, ainda temos sete páginas com extras: esboços, estudos editoriais, curiosidades sobre os personagens e apresentação do autor. Nas 67 páginas com a história em si, não temos mais do que noventa balões de texto. Alguns que desconhecem a obra de Gustavo Duarte podem achar pouco texto para tanta página. Acho que é até demais, pois o autor é notadamente conhecido por suas HQs mudas.

Na trama, Chico Bento e seu primo Zé Lelé ficam sozinhos em casa, à noite, oportunidade em que são abduzidos por extraterrestres e encarcerados numa gigantesca espaçonave em forma de robô, onde serão submetido a diversas experiência à la Arquivo X. Junto a eles, o porco Torresmo (o mais esperto do grupo, que os livrará da enrascada) e a galinha "Giserda" (cujo papel mostra-se importante ao final da trama). Não adianta ficar falando muito acerca da trama, pois isso pode ser conferido na leitura por qualquer um (espero que comprem!). Aliás, leitura rapidíssima, diante do pouco texto. Mas com Gustavo Duarte é fácil dedicarmos muito tempo apreciando a arte competente, em seu traço dinâmico. A colorização digital ficou muito boa, ressalto. Aqui, pretendo apenas destacar algumas curiosidades presente no gibi. Vamos lá!
Página 08. A bandeira do Esporte Clube Noroeste de Bauru, no carro do Nhô Tonico, é uma homenagem presente em todos os gibis do autor.
Página 11. Os gibis lidos pelos primos são: Spirit de Will Eisner e Có!, a primeira HQ publicada de forma 100% independente pelo autor em 2009.
Página 31. O velhote presente no primeiro quadro é Pinô, dono de um bar e salvador do Planeta Terra na graphic novelMonstros!, lançada em 2012 pelo selo Quadrinhos na Cia.
Página 32. Nas redomas, encontramos: esqueleto do Horácio (dinossauro da Turma), crânio do Cranicola e cérebro de Frank (os Turma do Penadinho).
Página 35.No quarto requadro, as caixas indicam locais onde foram (dizem) avistados óvnis ou ETs, além da roupa do Astronauta (o das revistinhas da Turma).
Página 38. O xadrez em 3D jogado pelos aliens e Torresmo (no corpo do Zé Lelé) é oriundo da hexalogia Guerra nas Estrelas de George Lucas.
Página 42.Michael Jackson (com cara de ET) aprisionado não é a primeira homenagem do autor ao astro pop. Em Monstros! há uma breve referência ao músico, no último quadro, quando Pinô exibe seus souvenirs.
Página 54.Os navios encontrados no interior da espaçonave realmente existiram e são dados por desaparecidos até hoje. Os loucos e conspiracionistas acreditam que foram tragados pelo Triângulo das Bermudas, quando é bem mais fácil crer, somente, que naufragaram em zonas abissais.
Pagina 59. Já vi aquele símbolo com oito extremidades em algum lugar (3º requadro). De início não associe, até que me veio de supetão: é a logomarca da banda Red Hot Chili Peppers.
Nos extras, mencionam outras referências. Mas a graça é justamente observar tudo detalhadamente. Gustavo Duarte é um narrador gráfico puríssimo; e a ausência de texto em suas obras é preenchida por diversos elementos que apenas podem ser apreciados na nona arte. Ah, e por esta edição capa dura e caprichada paguei menos de R$ 18,00, como podem ver no print abaixo da Saraiva.

Se em Magnetar (Danilo Beyruth) tivemos os texto didático de Amyr Klink na contracapa e, em Laços (Lu e Vitor Cafaggi), o saudosismo de Carlos Saldanha, Pavor Espaciar teve palavras de Roger, vocalista do Ultraje a Rigor. Segundo o músico: "Também conheci vários Chicos Bentos. Nas tirinhas de jornal, nas revistinhas e alguns de carne e osso, em Jacareí, cidade de meu pai, e em minhas viagens pelo interior do Brasil.". Pois é: Somos todos Chicos Bentos, penso; buscando, no labor diário, alguns momentos de lazer e diversão, mesmo sem goiabeiras por perto.



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