domingo, 19 de fevereiro de 2017

All Stars Superman de Grant Morrison e Frank Quitely



  • A Panini Books lançou, no mês de outubro de 2012, um encadernado reunindo os doze capítulos de Grandes Astros: Superman. Anteriormente, a mesma casa já havia editado a maxissérie em capítulos. Felizmente, agora, temos uma caprichada edição definitiva em capa dura e 308 páginas em papel cuchê, vendida a R$ 79,00. Entretanto, esse preço de capa não é praticado em muitas lojas. Juntando descontos de capa, progressivos e cupons, dá para levar essa luxuosa edição por bem menos. A minha saiu por R$ 50,00, por exemplo.
  • Na trama, Superman ingressa no Sol terrestre e ali permanece, por bastante tempo, a fim de resgatar a primeira missão tripulada à estrela. Ao retornar à Terra, descobre que seus poderes foram ampliados, além de sua imaginação, intelecto e criatividade. Além disso, descobriu novos poderes. Mas, em pouco tempo, essa injeção de energia solar causará a falência de suas células. É mais energia do que ele consegue processar de maneira eficaz e isso inicia uma cadeia de apoptose. Em resumo: Superman está com câncer e, antes de partir, precisa desempenhar doze trabalhos, numa clara referência à mitologia de Hércules.
  • A história foi escrita por Grant Morrison e ilustrada por Frank Quitely. Esses dois artistas já trabalharam juntos em Novos X-Men e We3. A arte final ficou a cargo de Jamie Grant - também já colaborador da dupla -, com suas finalizações e cores digitais bem elaboradas e não enjoativas.
  • Ainda acho Supremo, de Alan Moore e diversos artistas, a melhor obra a abordar a mitologia do Homem de Aço, mesmo que faça isso com o plágio cretino "criado" por Rob Liefeld. Além de utilizar todo o arcabouço mitológico de Superman, incluindo sua integração a uma "superequipe", Alan Moore fez isso de forma complexa e, concomitantemente, utilizando de metalinguagem nem um pouco forçada. No final, não restaram pontas soltas e tivemos um capítulo final com direito a um bate papo entre Supremo e Jack Kirby acerca de ficção e realidade, ideosfera e outras coisas interessantes. Certamente, Supremo e Grandes Astros: Superman possuem propostas distintas. Enquanto Alan Moore não quis deixar brecha para mais nada acerca da história do maior herói do Planeta em relação à história das histórias em quadrinhos na América, Morrison quis nos dar algo apenas simples e divertido para ler, deixando para o final uma grande abertura para interpretações das mais díspares possíveis.
  • A partir daqui, alguns trechos podem ser recepcionados como spoilers. Mas é impossível comentar assa HQ sem mencioná-los. Em Grandes Astros, os aspectos mais pueris da cronologia do Homem de Aço encontram espaço (como em Supremo). Deparamos-nos com pseudociência escabrosa e até ridícula, em especial quando visitamos o P.r.o.j.e.t.o. D.N.A., do filantropo Leo Quintum. Um elixir dá a Lois Lane superpoderes durante 24 horas. Jimmy Olsen, em razão de uma fórmula secreta, adquire poderes e aparência do vilão Apocalypse e combate um Superman mau, infectado por kryptonita negra retirada do subverso. Do subverso também surge um organismo que replica, de forma inversa, o que toca, nos dando o Mundo Bizarro, Bizarro n.º 01, vários bizarros e até mesmo uma anomalia desse fenômeno: Zibarro, um Bizarro sem birrazia. A Fortaleza da Solidão continua um covil de excentricidades, com direito à antiga abertura por uma chave. E detalhe: brincando com a chave da fortaleza, Morrison trocou aquela gigante por uma normal, que cabe no bolso, mas que pesa meio milhão de toneladas por ter sido forjada com material superdenso de uma estrela anã branca. Ridículo o Superman precisar de uma chave para entrar na Fortaleza, mesmo com tanta tecnologia à sua disposição? Sim. Mas isso faz parte de sua mitologia. Falando em mitologia, ainda temos a presença de Atlas e Sanção, que desafiam o Super para uma disputa de mão de ferro onde o "prêmio" será a  companhia de Lois Lane. Também encontramos descendentes de dinossauros que escaparam da extinção cavando tocas até o centro da Terra, formando uma Dinastia comandada por Dinoczar Tyrannko; tratam-se dos "subterranossauros". É mole?
  • Dentre os desafios a ser enfrentados por Superman, destaco sua criação de vida. Com um argumento forçado de absurdismo científico, vemos o universo artificial criado para abrigar um "nanoplaneta" similar ao nosso, onde a vida evolui em grande velocidade (ao menos para o nosso parâmetro de tempo). Superman queria, com isso, analisar como seria a vida no Planeta acaso ele não estivesse aqui para nos ajudar. Nessa "nanoTerra", o homem evolui sempre com fé em algo superior a se adorar ou a se atingir. Assim, encontramos aborígenes pintando seus deuses, religiosos erguendo alteres às sua dividades, Nietzsche escrevendo sobre o seu Übermensch (Super-Homem, em alemão) e, num pequeno apartamento, Joe Shuster criando seu último esboço para um herói de comics em cujo peito estampa um "S". É um bonito momento da HQ.
  • Durante anos, nunca soubemos o que seria da Cidade Engarrafada de Kandor. Em Grandes Astros, a única saída: ela é transportada para marte, onde os kryptonianos dali viverão livres, com superpoderes em razão da radiação do sol amarelo que receberão, embora eternamente miniaturizados.
  • Em outro desafio, Super-Homem responde à pergunta sem resposta: "O que acontece quando a força irresistível encontra o objeto inamovível?". A resposta encontrada, além de salvar a vida de Lois Lane (para variar, sempre em perigo!), servirá para o próprio super-heróis em seus momentos finais, quando deverá fazer uma escolha acerca de integrar-se à consciência viva de Krypton ou voltar à vida plena para enfrentar o mal um última vez. Esse mal, por seu turno, é representando por um Super Lex Luthor - poderoso em razão de mais um elixir milagroso com durabilidade de 24 horas (putz!) e Solaris, o Deus Sol Tirano. Findo esse embate, temos o momentos mais enigmático (e emblemático) da HQ, com Superman ingressando no Sol terrestre para salvá-lo da morte, mas sem retornar. Numa das últimas páginas, o vemos integrado a uma mecânica solar, logo após as palavras de Lois Lane a Jimmy Olsen, quando questionada sobre o falecimento do Campeão de Terra: "Superman não morreu. Publicamos aquela manchete como um aviso pra ser levado de volta no tempo. Talvez algumas pessoas ainda acreditem. Mas eu sei que ele ainda está lá em cima, construindo um coração artificial pra manter o sol vivo. Ele vai voltar quando terminar, Jimmy. E, quando tiver terminado, sabe onde me encontrar".
  • Sobre o final, destaco a Tropa Superman no sexto capítulo, onde o próprio Kal-El de El se revela como o Superman Desconhecido do ano 4500 DC. Noutras palavras, ele sobreviverá, mas deverá permanecer anônimo. Além dele, o chefe da tropa, que lhe fala sobre Novo Krypton, é dourado e irradia luz, como o Sol. Acredito que esse chefe também é Kal-El de El, em um estágio mais evoluído, onde adquiriu a própria natureza da grande estrela que lhe dava energia. Acredito, pois, que Superman tornar-se-á o próprio Sol. A capa do décimo capítulo (abaixo), é emblemática por si só. E, acerca da inspiração para esta capa, clique aqui.
  • Ainda sobre a Tropa Superman, acredito que Morrison se inspirou nas ideias sobre revisionismo que Alan Moore desenvolveu e utilizou brilhantemente em Supremo. Assim, aquelas versões do Super não seriam seus descendentes nem ascendentes; mas, sim, versões editoriais! Esse é meu palpite.



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